CPI da Covid-19 volta a mirar em Ricardo Barros e espera concluir apuração do caso Covaxin

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Enquanto acenam para o encerramento dos trabalhos, os senadores da CPI da Covid-19 começarão a 17ª semana de depoimentos com foco na atuação de intermediários envolvidos no processo de venda de vacinas, na suposta influência do líder do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR), no Ministério da Saúde, e mirando o ex-secretário de Saúde do Distrito Federal, alvo da Operação Falso Negativo e acusado de fazer parte de um esquema de superfaturamento na compra de testes de Covid-19 da Precisa Medicamentos. Com estas oitivas, os parlamentares querem concluir, nos próximos dias, a apuração do caso Covaxin, uma das principais linhas de investigação do colegiado. O contrato para a aquisição de 20 milhões de doses do imunizante indiano foi suspenso após os irmãos Miranda denunciarem irregularidades no processo. A cúpula da comissão, instalada para apurar as ações e omissões do governo do presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus, pretende entregar o relatório, incumbência do senador Renan Calheiros (MDB-AL), no início da segunda quinzena de setembro.

Na terça-feira, 24, a CPI vai ouvir Emanuel Catori, diretor da Belcher Farmacêutica, empresa intermediária da farmacêutica chinesa CanSino na negociação para venda do imunizante Convidencia ao Ministério da Sáude. A um preço de US$ 17, as doses eram uma das mais caras ofertadas à pasta. Os chineses romperam o contrato com a ftassBelcher alegando motivos de compliance. O governo federal assinou a carta de intenção de compra de 60 milhões de doses no dia 15 de junho. A farmacêutica tem sede em Londrina, no Paraná, reduto eleitoral do líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros. Um dos sócios da Belcher é Daniel Moleirinho Feio, filho de Francisco Feio Ribeiro, que ocupou o cargo de diretor da Urbanização de Maringá (Urbamar) durante a gestão de Barros à frente da prefeitura da cidade, entre 1989 e 1992. Moleirinho também trabalhou na Companhia de Saneamento do Paraná na gestão de Cida Borghetti, esposa de Barros, como governadora do Paraná. Em razão disso, a cúpula da comissão suspeita que o deputado tenha agido em favor do laboratório dentro da Saúde – o líder do Centrão comandou o ministério no governo do ex-presidente Michel Temer. Em seu depoimento ao colegiado, na quinta-feira, 12, Barros disse que não participou “de nenhuma reunião para tratar desse assunto”.

Na quarta-feira, 25, será a vez de Roberto Pereira Júnior, presidente da FIB Bank. A empresa foi indicada para emitir uma carta-fiança em favor da Precisa Medicamentos sobre 5% do valor do contrato com o Ministério da Saúde. O empresário Marcos Tolentino, amigo pessoal de Ricardo Barros, é apontado como sócio oculto da financeira. No entanto, em decisão recente, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) considerou que a FIB Bank não é uma instituição financeira (sociedade anônima que opera como companhia fidejussória, segundo consta em seu site) e, por isso, a garantia financeira não poderia ter sido aceita. Além disso, à CPI da Covid-19, o dono da Precisa, Francisco Maximiano, retificou um trecho de seu depoimento – depois de o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) ter pedido a sua prisão – e admitiu ser locatário de um apartamento na região do Campo Belo, em São Paulo, onde ocorriam encontros privados. Segundo as investigações, Tolentino era uma das poucas pessoas que tinham livre trânsito ao imóvel. Na sessão de quinta-feira, 19, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que integra o núcleo de trabalho da CPI voltado exclusivamente ao caso Covaxin, disse que boa parte do capital social da empresa, de R$ 7,5 bilhões, é composto por “terrenos que nem sequer existem”.

Por fim, na quinta-feira, 26, os parlamentares vão inquirir Francisco Araújo Filho, ex-secretário de Saúde do Distrito Federal. Seu depoimento estava inicialmente marcado para a terça-feira, 17, mas ele foi autorizado pela Justiça Federal do DF para viajar a Manaus entre os dias 12 e 22 de agosto para visitar os filhos. Um dos alvos da Operação Falso Negativo, que investiga fraude a compra de testes de Covid-19, Araújo foi preso em agosto do ano passado. Ele e outras 14 pessoas viraram réus, acusados de organização criminosa, fraude à licitação, fraude na entrega de uma mercadoria por outra e peculato – o prejuízo aos cofres públicos é estimado em R$ 46 milhões.

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