Indicadores apontam queda sustentada da pandemia, mas variante Delta pode reverter cenário

Freddy stars
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Neste sábado, 14, o Brasil completou 15 dias com a média móvel de mortes por Covid-19 abaixo de mil. A última vez que o país havia atingido a marca para o indicativo foi em 20 de janeiro de 2021, quando foram contabilizados 983 óbitos pela doença. O boletim do Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado na última semana, também destaca que é a primeira vez desde outubro de 2020 que não há Estados no país com taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 iguais ou superiores a 80% no Sistema Único de Saúde (SUS). Com vários índices em baixa, o pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde da Fiocruz (ICICT), Christovam Barcellos, acredita que o Brasil está vivenciando um momento de queda sustentada.

Acompanhando desde o início da pandemia, nós vimos diversos indicadores. E, muitas vezes, tem uma certa divergência entre eles, outras vezes há uma convergência. Por exemplo, quando houve o colapso em dezembro e janeiro, todos os indicadores tinham uma tendência de alta. Agora, parece que todos os indicadores estão em uma tendência de baixa. Por isso é que a gente acredita que essa queda é sustentável”, afirma Barcellos. “Ao mesmo tempo em que está caindo o número de óbitos, está caindo também o número da incidência de casos e a positividade dos testes, há um certo alívio no sistema de saúde. Um conjunto de indicadores que mostra uma certa evidência de sustentabilidade”, avalia.

O pesquisador atribui a queda ao avanço da campanha de vacinação no Brasil. “Nós podemos, sim, comemorar, principalmente graças à vacina, afinal de contas, o país nunca fez um lockdown muito restrito. Então, a gente acredita que toda essa queda nos indicadores se deve à vacina”, diz Barcellos. Já para Carlos Machado, ​​coordenador-geral do Observatório Covid-19, mesmo com o avanço da vacinação ainda não é possível definir se a queda será sustentada, principalmente com um aumento no número de casos em capitais como Goiânia e Rio de Janeiro, que já têm predominância da variante Delta entre os contaminados. “Não tem como afirmar [que será sustentada]. A gente tem como afirmar, e isso está muito evidente nos boletins que a gente vem produzindo, que a vacinação certamente produziu uma queda de casos, internações e óbitos no Brasil. Porém, há a situação do Rio de Janeiro, Estado e capital, onde foi detectada a maior presença da variante Delta, de uma reversão desse quadro. Ou seja, com crescimento de casos e internações e óbitos. Então, é um momento de muita incerteza”, pondera.

Disseminação da variante Delta pode reverter cenário de queda

Apesar de acreditar que a queda pode ser sustentada, o pesquisador da Fiocruz, Christovam Barcellos, acende um alerta para a possibilidade de a variante Delta reverter esse cenário. “Infelizmente, ela está circulando com uma velocidade muito grande. No Rio de Janeiro, já é predominante entre os casos, e isso tende a se espalhar por todo todo Brasil. O país não tem adotado nenhuma restrição de locomoção, nem rodoviária nem aérea”, aponta o especialista. “Talvez a variante Delta não tenha uma letalidade alta, um impacto alto sobre a mortes e internações, mas ela é muito mais transmissível e pode realmente causar muito mal às populações imunossuprimidas”, analisa Barcellos. Ele lembra que estudos têm comprovado a eficácia das vacinas no combate à variante, mas o medo é que, com uma alta transmissão do vírus, surja, ao longo dos próximos meses, uma variante que consiga driblar o sistema imunológico dos vacinados, já que é possível contrair a doença mesmo após a vacinação.

“Se vacinar, principalmente com uma dose, não significa que a pessoa está livre da doença. Ela pode se infectar. Muito provavelmente, vai ter sintomas muito leves, talvez até nem suspeite que seja Covid. E quem já conseguiu tomar a segunda dose vai ficar protegido, mas acontecem, sim, óbitos mesmo em populações vacinadas, porque não há vacina completamente eficaz”, explica o pesquisador, que reforça que os episódios são mais comuns em populações com saúde mais frágil, como idosos e pessoas imunossuprimidas. Segundo Carlos Machado, um aumento nas taxas de internação e óbito de pessoas com mais de 60 anos já tem sido notado. “O que a gente identificou nos boletins anteriores foi que, com a vacinação dos grupos prioritários, a gente reduziu as internações e óbitos entre os idosos proporcionalmente. Quando a gente olhava o percentual de internações e óbitos na população, foi vendo que, à medida que a ampliação chegou aos mais idosos, diminuiu a proporção de internações e óbitos no grupo. O que aconteceu depois foi um rejuvenescimento da pandemia, que estava atingindo as faixas etárias mais jovens”, explica o coordenador do Observatório.

Agora, com parte da população adulta já vacinada, aumentou a proporção, em números relativos, de idosos internados ou mortos. “Isso era um pouco esperado na medida em que, quando os idosos passaram a ter uma proteção a mais, a vacina, comparados com a população que estava sem imunização, você teve uma queda relativa de internações de óbitos. Mas, quando quase todos, ou uma parte da população, passam a ter vacina, os idosos, que são vulneráveis, têm um aumento nos índices.” Por isso, Machado salienta que os cuidados com as pessoas com mais de 60 anos devem permanecer. “Os idosos devem evitar estar na rua. Por exemplo, pegar ônibus e metrô só em casos absolutamente necessários. E evitar lugares de grande circulação”.

Próximos passos para manter a diminuição de casos e mortes

Para Chistovam Barcellos, esse momento de queda deve ser aproveitado para uma readaptação do sistema de saúde. “A gente agora tem um pouco de condições para readaptar o sistema de saúde, fazer mais testes, converter leitos, por exemplo, para atender pessoas que ficaram represadas ao longo de 2020 e 2021, fazer cirurgias que foram adiadas e consultas médicas. Sempre com todo cuidado, com equipamentos de proteção, lavagem de mãos e evitando aglomeração”, considera. Ele também defende uma maior atenção para as profissões que ficam mais expostas, como guardas penitenciários e trabalhadores de transporte. E com a variante delta à espreita, Carlos Machado afirma que só a vacinação não é suficiente. “Ela reduz a velocidade da expansão da variante Delta, mas não vai ser possível sem combinar também medidas de uso de máscara em larga escala da população. É fundamental ainda distribuir máscaras e utilizá-las, principalmente em ambientes fechados”, afirma. “É o momento em que a gente deve evitar, principalmente onde tiver qualquer indicador de reversão do quadro de queda, eventos em ambientes fechados com grande aglomeração.” Ou seja, ainda não é hora de guardar as máscaras no fundo do armário. Segundo o especialistas, o uso deve ser mantido em ônibus, metrôs, shoppings e ambientes abertos de grande circulação.

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