Após comédias na TV, Nando Cunha brilha no cinema e diz: “Não quero ser visto apenas como ator engraçado”

Freddy stars
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Nando Cunha, 57 anos de idade, está no elenco do filme Nosso Sonho, sobre a trajetória de Claudinho e Buchecha, interpretando Claudino, o pai do cantor Claudinho (1975-2002). Ao falar sobre o trabalho, o ator não esconde a satisfação: “Foi o melhor personagem da minha vida”.

Lembrado por papéis com pegada cômica — como o garçom Joel, da novela Travessia (Globo, 2022), e como Dinda, na sitcom Os Suburbanos (Multishow, 2015) –, Nando gosta de mostrar a versatilidade e não ficar preso ao humor. “Quero fazer personagens profundos com camadas diversas, ser protagonista de nossas histórias, ser respeitado como artista. Não quero ser visto apenas como um ator engraçado”, diz.

Ainda neste ano, o ator poderá ser visto em mais um personagem real. Ele é Grande Otelo (1915-1993) em Mussum – O Filmis, que estreia em novembro. “Sou muito fã do Grande Otelo, um dos maiores atores desse país. Já havia interpretado o Grande Otelo no teatro, na TV — na minissérie Dalva e Herivelto”, diz, citando a trama exibida em 2010 pela TV Globo.

Nosso Sonho foi bastante aguardado entre os lançamentos nacionais neste ano. Como foi interpretar o Sr. Claudino?
A história de Claudinho e Buchecha perpassa muito sobre nós, pretos. Todo mundo tem uma memória afetiva com eles e com a música. Dar vida a seu Claudino foi uma responsabilidade muito grande. Ele foi determinante para a vida do Buchecha. Eu e o diretor Eduardo Albergaria tivemos muitas conversas para que pudéssemos dar dignidade e humanidade a esse personagem. Quis entender todas as camadas porque não é fácil ser um pai preto nesse país. Nosso povo foi forjado a duras penas, onde a perspectiva e possibilidade de sonho eram nulas. Ele tinha sonhos, mas não podia realizá-los. Sou pai também. Eu me preocupei muito em não decepcionar a ele e ao seu filho. Foi o melhor personagem da minha vida. Sou muito grato pela oportunidade que tive.

Nos anos 90, como foi seu contato com o universo de Claudinho e Buchecha?
Na minha casa, sempre ouvíamos. Minha cunhada tinha um CD que ficava tocando em looping. Foi uma época que podíamos ouvir o funk — um ritmo proibido — em casa. Eles mudaram o patamar do funk e se tornaram artistas pop. Foram gravados por quase todos os artistas da MPB. Dois meninos pretos se atreveram a sonhar em um país que nos mata. Eles deram esperança a muitos meninos e meninas pretas. E foram além: realizaram o sonho e previram que as suas histórias iriam virar cinema.

As cinebiografias têm ganhado mais espaço entre os filmes nacionais. Você também está em Mussum – O Filmis, interpretando Grande Otelo. O que podemos esperar deste trabalho?
Sou muito fã do Grande Otelo, um dos maiores atores desse país. Já havia interpretado o Grande Otelo no teatro, na TV — na minissérie Dalva e Herivelto — e agora no filme. Foi muito rápida minha participação durou um dia. Cheguei cedo ao teatro Carlos Gomes, fiz maquiagem, coloquei o figurino, estava me preparando… Quando vi, a produção estava me chamando para a cena em que Otelo, simplesmente, dá o nome ao Mussum. Eu me tremi todo (risos). Quando lançar o público vai dizer se dei conta ou não.

Temos visto maior representatividade no audiovisual. Acho que ainda temos muito a evoluir?
Temos e muito. Precisamos contar e protagonizar as nossas histórias. Precisamos estar nas posições de comando — roteiro, direção, figurino, caraterização, produção executiva. A representatividade e a equidade têm que ser em outras esferas. Equidade salarial, por exemplo. As oportunidades não são iguais para nós. Tenho certeza que não me dariam um personagem como esse (Grande Otelo) para fazer em uma novela.

Já recusou algum papel por não concordar com a narrativa proposta?
Sim, muitos. Estou com 57 anos de idade e 30 anos de carreira. Não faço mais o que não me desafie ou que não acredite. É uma pena que nos coloquem sempre em uma prateleira estereotipada. Sempre somos escalados para fazer um tipo divertido, malandro… Adoro fazer humor, mas não sou um ator de uma nota só.

Quais sonhos ainda deseja realizar?
Nossa sociedade não nos vê com importância e relevância, por conta de racismo estrutural e sistêmico. Desejo oportunidades iguais a essa que tive em Nosso Sonho. Quero fazer personagens profundos com camadas diversas, ser protagonista de nossas histórias, ser respeitado como artista. Não quero ser visto apenas como um ator engraçado.

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